Já se perguntou como nosso cérebro consegue tomar uma decisão? Vamos simplificar essa decisão para uma simples escolha entre usar a blusa amarela ou a blusa branca para o trabalho. Como os neurônios presentes em seu cérebro conseguem fazê-lo tomar uma decisão e não a outra? E que área do cérebro é responsável por isso? O tema em questão foi estudado em animais recentemente e publicado na revista científica Journal of Neuroscience em 2002. O primeiro desafio dos pesquisadores era encontrar uma tarefa complexa o suficiente para que os animais precisassem tomar uma decisão, e ao mesmo tempo simples para que o uso de outras tarefas cognitivas não afetasse as interpretações do estudo. Portanto, eles utilizaram uma tarefa semelhante a discutida semana passada aqui no Neuropod (clique aqui para o link), no qual uma decisão motora era efetuada a cada vez que o animal fazia o experimento.

A tarefa consiste em utilizar macacos para observar uma tela onde uma série de pontos aparece se movendo em uma direção específica, ou para a esquerda ou para a direta; em seguida os animais deviam tomar uma decisão para qual lado os pontos estavam se movendo. Essa “decisão” era dada através de um direcionamento de seu olhar: durante a tarefa seu olhar deveria se fixar no centro e durante a resposta eles deveriam mover os olhos ou para a direita ou para a esquerda, de modo a acertar a direção em que os pontos se moviam. Caso o animal acertasse, ele recebe uma recompensa – fator principal que o mantém interessado em realizar a tarefa. O tempo que os animais levavam para tomar a decisão era contabilizado (tempo de reação) e os cientistas monitoravam a atividade de seus neurônios em diferentes regiões corticais. Caso a região monitorada tivesse relação com a tomada de decisão, sua atividade deveria aumentar exatamente antes do movimento ocular – momento em que a decisão é tomada.

Por causa desse desenho experimental a tarefa se torna uma simplificação em torno da tomada de decisão. O animal deve decidir em que direção os pontos estão se movendo entre esquerda ou direta e responder com um movimento ocular. E é por isso que a parte da tarefa de MOVIMENTOS se torna uma das mais importantes, porque é a única evidência que o animal possui para tomar sua decisão entre esquerda e direita: a direção de movimento dos pontos a sua frente. Para explorar como as evidências que nos levam a tomar uma decisão afetam a mesma, os pesquisares alteravam o número de pontos que se moviam em determinada direção (Figura abaixo) a cada tentativa do animal. Como exemplo vamos imaginar três tentativas em que os pontos se movam para o lado direito. Na primeira tentativa imaginemos um total de 20 pontos se movendo, 10 se movem para a direita e outros 10 se movem em direções aleatórias. Nessa tentativa portanto, 50% dos pontos se movem para a direita e o animal possui essa quantidade de pistas para tomar sua decisão.

Numa segunda tentativa, dos 20 pontos nenhum está se movendo para a direita e portanto a decisão que o animal tomar não estará embasada em nenhuma evidência. Na terceira tentativa todos os 20 pontos se movem para a direita, ou seja 100% dos pontos se movem nessa direção e o animal possui todas as pistas apontando na direção em que dará sua resposta. Isso permite que os cientistas façam perguntas sobre como o número de evidências altera o quão rápido tomamos essa decisão. E o mais importante: como a atividade de neurônios é alterada de acordo com o número de evidências que temos para tomar uma decisão.

O que os cientistas descobriram?

Primeira conclusão foi relacionada a atividade neuronal quando a decisão é tomada. A área do cérebro que gerou a tomada de decisão para a direita ou esquerda se localiza no córtex do animal e é chamada área cortical lateral intraparietal (CLI). No experimento em questão neurônios dessa região aumentavam sua atividade logo antes do movimento ocular sacádico e era específico para a decisão tomada. Um grupo de neurônios na CLI aumentava a atividade apenas quando uma decisão para a direita era tomada, possuindo atividade mínima caso a direção tomada fosse à esquerda (Figura abaixo). Outro grupo de neurônios possuía atividade máxima quando uma decisão era tomada de se mover à esquerda, possuindo atividade mínima quando a decisão tomada era para a direita. Esse perfil nos mostra algo muito interessante sobre o córtex. Notou alguma semelhança com a tomada de decisão e outras tarefas corticais? Caso você tenha lido nossa reportagem da semana passada (clique aqui para o link) pode perceber que é bem semelhante como nossa memória de trabalho processa informação. Isso mostra que existe um padrão de como o córtex organiza a informação do mundo exterior e influencia nossas ações.

A segunda conclusão tomada pelos cientistas envolve o número de evidências para a tomada de decisão. Quanto mais pontos se moviam na mesma direção (mais evidências/pistas eram apresentadas para uma decisão correta), mais rápido o tempo de resposta do animal. O que não é nenhuma surpresa. Quando se olhava para a atividade neuronal havia uma diferença no tempo que levava para os neurônios aumentarem sua atividade dados o número de pistas, e não na atividade necessária para gerar a tomada de decisão. Ok, parece confuso. Vamos supor que uma tomada de decisão à direita seja efetuada; os neurônios precisam atingir um aumento de atividade de 65 sp/s (não se preocupe com o que isso significa) para tomar essa decisão (pontos se movem para a direita). O número de pistas afetava diretamente a atividade dos neurônios para a tomada de decisão, cada pista dada, auxiliava o neurônio a chegar mais rápido aos 65 sp/s; portanto mais rápido a decisão era tomada. E independente do número de evidências dado, os neurônios tinham sempre que chegar a mesma atividade de 65 sp/s, por isso maior o tempo levado para tomar uma decisão quando o número de evidências diminuia.

A última conclusão tomada é sobre o tipo de circuito cerebral responsável pela atividade antagônica dos neurônios entre a decisão direita e esquerda. O circuito cerebral sugerido para tomada de decisões supõe que uma vez que o nível de 65 sp/s seja atingido por um neurônio (exemplo: neurônio de decisão para direita), este iniba a atividade do grupo de neurônios para decisão contrária (exemplo: neurônio de decisão para a esquerda). Dessa forma apenas uma decisão será tomada toda vez, e nunca duas. De mesmo modo esse tipo de organização de circuito explica porque a atividade dos neurônios de decisão para a esquerda é minima quando a decisão para a direita é tomada, e vice-versa.

Gostou de saber como cientistas podem estudar a tomada de decisões ao simplificar a tarefa a uma escolha entre esquerda ou direita? Tem alguma dúvida sobre o tema? Ou sugestão de tema para o Neuropod? Entre em contato com a gente pelo site, email ou nossa página do face!

 

Referências:

The Effects of Evidence Bounds on Decision-Making: Theoretical and Empirical Developments. Jiaxiang Zhang. Frontiers in Psychology. August 2012

Response of Neurons in the Lateral Intraparietal Area during a Combined Visual Discrimination Reaction Time Task. Jamie D. Roitman and Michael N. Shadlen. The journal of Neuroscience. November 2002.

Todas as imagens foram adaptadas dos artigos mencionados acima, menos a imagem em destaque que foi utilizada do seguinte site: http://jflider.com.br/noticia/dicas/668-cerebro-neuromarketing-busca-entender-como-funcionam-as-decisoes-de-compra-dos-clientes,3

 

Author

Write A Comment

This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.