Em pesquisa recente, cientistas brasileiros mostram que, possivelmente, ainda não conhecemos todos os efeitos da infecção pelo vírus da Zika durante a gestação ou logo após o nascimento. Muitas das complicações envolvendo o cérebro ainda podem estar por vir: as crianças infectadas durante o último surto de trasmissão desse vírus tem apenas cerca de três anos de idade; o estudo ressalta disfunções neurológicas que só se tornariam aparentes conforme elas atinjam a adolescência, ou mesmo a idade adulta.
Esse importante trabalho foi publicado na revista científica americana Science Translational Medicine. Em um post no nosso blog no início do mês, resumimos seus principais resultados. Agora, tivemos a oportunidade de entrevistar as neurocientistas que fizeram parte dessas descobertas!
A Dra. Julia H. R. Clarke é professora adjunta no Departamento de Biotecnologia Farmacêutida da Faculdade de Farmácia, na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ela lidera um grupo de pesquisa que se dedica a entender como eventos ocorridos ao longo da gestação, ou mesmo durante a vida de um indivíduo, podem “programá-lo” a responder de forma diferente, posteriormente. Por exemplo, uma infecção logo após o nascimento pode “programar” o sistema de defesa (imunológico) do corpo de uma pessoa a responder de forma exagerada ou excessiva a infecções ao longo da sua vida, mesmo muitos anos depois dessa primeira infecção. Essa programação se dá a nível celular e molecular. Nesse mesmo exemplo, as células do sistema imunológico (de defesa) desta pessoa se tornam super reativas – essa super reatividade pode ser explicada por alterações nas proteínas que estão ativas ou inativas dentro destas células.
Assim, o grupo da prof.a Clarke se juntou aos das virologistas profa. Dra. Andrea T. Da Poian e prof.a Dra. Iranaia A. Miranda, ambas da UFRJ, para estudar quais seriam as consequências a longo prazo da infecção pelo vírus da Zika durante o período perinatal, (logo antes ou logo após o nascimento). À frente dos experimentos, a Dra. Clarke posicionou suas alunas de pós-graduação: Isis N. O. Souza (doutorado) e Paula S. Frost (mestrado), ambas biomédicas pela mesma universidade e, primeiras autoras do trabalho.
Será que os bebês infectados pelo vírus da Zika em 2015 estariam “programados” a responder de forma diferente a eventos no futuro? E se sim, o que podemos esperar para eles nos próximos anos? Há algo que podemos fazer para evitar complicações neurológicas futuras? Essas e outras perguntas foram respondidas pela própria prof.a Clarke, e suas alunas de pós-graduação, M.a Souza e Bel.a Frost, em uma entrevista exclusiva ao NeuroPod.
Ouça a entrevista na íntegra clicando aqui.
A figura resume as principais descobertas do estudo brasileiro, para ler mais, clique aqui.