A demência acomete cerca de 8% dos idosos acima de 60 anos de idade em países com alto poder aquisitivo. Entre maiores de 85 anos, as estimativas são de que a condição possa acometer até um em cada cinco. Um estudo recente avaliou a incidência de demência entre indivíduos idosos (acima de 60 anos de idade) Tsimane e Moseten, povos indígenas que vivem na Amazônia boliviana. A taxa identificada para os Tsimane foi de 1,2%, enquanto para os Moseten, apenas 0,6% (gráfico abaixo). Todos os indivíduos com demência nessas populações eram maiores de 80 anos de idade. As explicação para tamanha diferença pode estar no estilo de vida.

Povos indígenas da Amazônia tem menor incidência de demência que países desenvolvidos Neuropod
Imagem reproduzida de Gatz e col., Azheimer’s & Dementia, 2022.

Os Tsimane contam com uma população total de aproximadamente 17.000 pessoas. Eles possuem um estilo de vida de subsistência, eles pescam, caçam e plantam com ferramentas que eles mesmo produzem. Possuem acesso mínimo a energia elétrica, água tratada, esgoto ou medicações. Já os Moseten são aproximadamente 3.000 pessoas que vivem de forma um pouco mais integrada a sociedade boliviana. Eles falam espanhol fluentemente, tem contato próximo com áreas residenciais e o mercado local, escola, acesso a água tratada e serviços médicos. Porém, ainda residem em vilas rurais e se mantém por uma agricultura de subsistência.

Para avaliar os diversos domínios cognitivos das populações indígenas, os pesquisadores utilizaram de testes culturalmente adaptados. Complementaram o estudo com avaliações de neuroimagem para avaliar a taxa de calcificação de artérias cerebrais e perda de volume da massa cinzenta ou branca. No final, os achados apontaram uma baixa taxa de demência em idosos das duas populações indígenas. Porém, as taxas de declínio cognitivo leve a moderado, considerado um possível estágio intermediário para demência, foram similares às de outras populações.

Várias evidências atualmente apontam para que fatores associados ao estilo de vida tenham um papel importante no desenvolvimento da doença de Alzheimer, principal causa de demência. Dentre esses fatores, destacam-se baixa educação formal, hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares, sedentarismo e, a poluição do ar. Em contrapartida, o estilo de vida dos Tsimane e dos Moseten contém altas doses de atividade física diária e dieta pobre em produtos com açúcares e gorduras processados. Por consequência, eles tem menos diabetes, obesidade, hipertensão e problemas com colesterol alto. Por outro lado, essas populações também são mais susceptíveis a infecções e inflamação sistêmica. No caso dos Tsimane, também não há educação formal. É possível que a boa saúde geral contrabalanceie os efeitos negativos das parasitoses, infecções e baixa escolaridade no envelhecimento cerebral.

Uma hipótese alternativa é que os habitantes que desenvolveriam a demência tenham falecido mais cedo e, por isso, não puderam ser estudados (mortalidade seletiva). Por isso, o grupo de pesquisa continuará avaliando aqueles que apresentaram um prejuízo cognitivo leve ou moderado para avaliar as contribuições da mortalidade e diversos fatores de risco ou proteção no desenvolvimento da demência nessas duas populações.

Fonte:

Gatz e col., Azheimer’s & Dementia, 2022. https://doi.org/10.1002/alz.12626

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